
Engenheira ambiental orienta acolhidos no cultivo de verduras, legumes e ervas medicinais e no reaproveitamento de material orgânico da cozinha para produção de adubo natural.
A entrevista de emprego de Andressa Balbina era para a vaga de educadora social na Unidade de Reinserção Social (URS) Haroldo Costa, na Taquara, em Jacarepaguá. O currículo de Andressa Balbina, de 32 anos, e a vocação do quintal da unidade, contudo, chamaram a atenção do diretor que a entrevistava. Engenheira ambiental e sanitária de formação, ela se viu diante de uma nova proposta: comandar uma horta que pudesse, ao mesmo tempo, abastecer a cozinha local e servir de terapia e aprendizado para os abrigados. Desafio aceito, ela e seus alunos já colhem os frutos (legumes, verduras e temperos) de quase dois anos de trabalho.
“Eu vim para a entrevista da vaga de educador social, que é um profissional que auxilia os acolhidos acompanhando-os em consultas, para fazer documentos… O diretor viu meu currículo, me falou da horta e eu aceitei. Foi o tema do meu TCC (trabalho de conclusão de curso) a destinação de uma horta em escola municipal, para que os alunos levassem para casa os alimentos”, relembra Andressa, há um ano e 10 meses na URS.
Com o auxílio de uma equipe de até cinco abrigados, a engenheira ambiental cultiva uma grande diversidade de legumes, verduras e ervas medicinais e de tempero no terreno da unidade: cenoura, coentro, manjericão, batata doce, salsa, cebolinha, taioba, camomila, alface americana, couve, hortelã, gengibre, açafrão, alecrim, pimentão amarelo, pimenta malagueta, alho-poró, rúcula e mostarda lisa, além do tomate, que é o fruto de retorno mais rápido.
“Eu tenho a responsabilidade de manter os acolhidos aqui na horta comigo. Nós trabalhamos para que eles possam ter essa atividade como uma terapia, para ocupar a mente e retornar ao seu seio social ou ter uma perspectiva de vida melhor. O principal aqui é que eles possam ser participativos”, explica ela, que mantém um berçário de mudas, para recompor os canteiros, a cada ciclo de colheita.
Para evitar pragas nas plantações, Andressa e sua equipe utilizam recursos naturais, que vão desde o truque de ter ervas de tempero, com cheiro ativo, entre hortaliças que atraem insetos, ao uso de inseticida natural, à base de água e alho. Alimentos que sobram na cozinha também são reaproveitados e se transformam em adubo natural.
“Fazemos aqui a compostagem, que é o processo biológico de decomposição da matéria orgânica, transformando resíduos como restos de alimentos e folhas em adubo natural. E também reutilizamos tudo o que seria descartado. Fazemos uma ação de reciclagem, é um ciclo rotativo. Por exemplo, conseguimos replantar a cebolinha, que é retirada da cozinha é colhida novamente, nunca é descartada. Isso faz com que os acolhidos possam ter uma noção do que é o cultivo do próprio alimento, saber que aquilo está retornando para eles naturalmente, livre de agrotóxicos”, orgulha-se Andressa.
O trabalho é aprendizado para a equipe que trabalha na horta de forma espontânea e voluntária. “Acho muito gratificante. Aqui me abraçaram. Estou aprendendo como cortar uma hortaliça corretamente. Minha parte favorita do dia é quando chego aqui. Quando está chovendo é uma tristeza, quando faz sol é alegria total!”, revela Evandro Gonçalves.
Reginaldo França concorda com o colega de cultivo: “seis horas da manhã já estou aqui! Mexer com a terra é a melhor coisa que tem. Uma terapia, ocupando e distraindo a mente. Você está plantando e vai colher e comer. Tenho que agradecer à Andressa e ao projeto, que deram essa oportunidade para nós, de ser voluntários.”
Nutricionista da URS Haroldo Costa, Ana Carolina Zeferino Farneze destaca os benefícios da horta para os usuários: “A horta vem como um complemento da nossa alimentação. É um trabalho bem importante, porque a gente tem desde a reciclagem, com a compostagem dos alimentos que saem daqui da cozinha, até a alimentação que é livre de agrotóxicos. A gente consegue oferecer a eles uma alimentação mais saudável. Na horta também existe uma interação social entre eles e isso é benéfico tanto fisicamente quanto mentalmente”.
FOTOGRAFIAS: Wanderson Cruz / Divulgação / SMAS