
Grupo Apoio a Mães Atípicas (AMA), criado em abril do ano passado, tem cerca de 20 inscritas e se reúne uma vez por mês.
A sensibilidade de profissionais do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) Rubens Corrêa, em Irajá, detectou, entre as muitas demandas do cotidiano da unidade, que mães de crianças e adolescentes neurodivergentes necessitavam de suporte emocional, cuidados e orientações sobre a garantia de direitos. Desta percepção nasceu, em abril de 2024, o grupo Apoio a Mães Atípicas (AMA), que se reúne uma vez por mês.
O grupo atualmente tem cerca de 20 inscritas, em sua maioria moradoras do Morro do Juramento, em Vicente de Carvalho. Os encontros acontecem na sala de leitura da Escola Municipal Sergipe, no mesmo bairro. Espaço gentilmente cedido pela Coordenadoria Regional de Educação (CRE) local, por ser mais próximo do território.
“O grupo surgiu a partir da instauração dos cordões de neurodiversidade (acessórios utilizados para identificar pessoas cujo funcionamento cerebral difere do padrão considerado típico pela sociedade). Havia a necessidade de ouvir as mães de crianças neurodivergentes, que, muitas vezes, são invisibilizadas. Elas precisavam falar, estabelecer trocas, obter informações sobre direitos, benefícios, autocuidado. O Juramento é uma comunidade muito vulnerável no nosso território”, explicou Cristiane da Silva Disconzi, então diretora do Rubens Corrêa, ao receber nossa equipe no mês de julho.
Escuta qualificada
As atividades do AMA são definidas a partir das necessidades e dos pedidos das mães sobre assuntos e atividades do interesse delas.
“Sempre estamos disponíveis para uma escuta qualificada, perguntando às mães quais são os interesses e as dúvidas delas. Assim, vamos organizando os encontros e passeios, de acordo com as necessidades do grupo. Elas pedem bastante passeios, encontros sobre saúde mental e momentos de escuta sobre dicas para relaxar em casa”, revelou Beatriz Serri Nóbrega, pedagoga do CRAS.
Cleide Maria da Conceição Silva, mãe de Pyetra Nathaly, de 9 anos, frequenta o grupo desde o início. Ela afirma ser grata pela orientação que recebeu para buscar o caminho correto que garantisse um tratamento adequado e o bem-estar da filha.
“Minha filha é autista grau 1. Desenha muito bem! Só demorou a falar. Quando cheguei aqui, ela sofria com dores no pé e ninguém descobria o que tinha. O CRAS me deu as instruções e eu consegui na Justiça, em um mês, a cirurgia dela. Foram três anos de luta!”, relembrou Cleide.
Acesso a direitos
No encontro de julho, a advogada Wilma Felício, do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) João Hélio Fernandes Vieites, de Coelho Neto, conversou com o grupo sobre acesso a direitos como o BPC Loas, o Bolsa Família e como buscar ajuda, quando surgem dificuldades de interação ou mediação de alunos neurodivergentes no ambiente escolar.
Foi a primeira participação de Arycia Araújo Lopes dos Santos, mãe de um menino de 9 anos, que tem Síndrome de Down e Transtorno Opositor Desafiador (TOD).
“Sou mãe representante da inclusão na Escola Sergipe e recebi indicação sobre o grupo. Para mim é a oportunidade de falar, ter troca com outras famílias, ser ouvida, ter um olhar de cuidados e acolhimento. O João Pedro foi diagnosticado com Síndrome de Down com 11 meses e tudo mudou na minha vida. Aos 7, foi diagnosticado com TOD”, contou Arycia, que falou com as companheiras de grupo sobre os desafios do dia a dia e como foi, aos poucos, aprendendo a estabelecer limites e acordos saudáveis com o filho.
Psicóloga do CRAS Rubens Corrêa, Noele Gonçalves ressaltou que um dos principais objetivos do grupo é dar acolhimento e cuidar de quem cuida. O tema escolhido para a reunião do mês de agosto foi saúde mental.
“Elas têm dificuldades, limitações e, muitas vezes, têm dores que são invisibilizadas”, resumiu Noele.
FOTOGRAFIAS: Wanderson Cruz / Divulgação / SMAS