
Mineiro, Seu Manoel foi abordado por equipe da SMAS e embarcou na sexta-feira para Itaperuna.
Daqui a cinco dias Seu Manoel Rezende de Souza completa 71 anos. A data será celebrada de forma bem diferente do que poderia imaginar há pouco mais de um mês, quando sobrevivia às agruras das ruas, na Zona Norte do Rio. Mineiro de nascimento, ele veio para o Estado do Rio há mais de 30 anos. Trabalhou como cobrador de ônibus, na Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), numa antiga grande rede de supermercados, como ajudante de pedreiro e ambulante. Não constituiu família por aqui, mas há tempos nutria uma saudade pelos laços de origem – da irmã mais velha e dos sobrinhos. Principalmente depois que a violência o expulsou de casa, sem qualquer pertence ou documentos.
Forçado a deixar o lar por ameaças e sem condições financeiras de pagar aluguel, passou a viver nas imediações do viaduto de Madureira, numa “casa” feita com caixotes. Uma abordagem da assistente social Helena Rosa dos Santos e do educador social de rua Michel Cardoso de Souza, que atuam no Núcleo de Atendimento Assistencial (NAAS) do bairro, no início de maio, começou a mudar esta história.
Os dois profissionais da Secretaria Municipal de Assistência Social (SMAS) encontraram “um senhor de fala calma, andar lento e olhar cansado”, que aceitou o acolhimento e foi levado para a Central de Recepção de Idosos Pastor Carlos Portela, na Ilha do Governador. Mesmo reservado, Seu Manoel revelou a eles um desejo: “Quero ver minha irmã antes de morrer.”
“O Seu Manoel estava em situação de vulnerabilidade social e atuamos para poder viabilizar a reintegração social dele, com ações de documentação, de saúde e abrigamento. A família se emocionou com esse reencontro e agora ele está indo para casa. Promovemos a autonomia e o protagonismo deste usuário”, explicou Helena.
A irmã citada pelo idoso é Maria Aparecida Rezende Freitas, de 78 anos, a mais velha de quatro filhos. Ele também lembrava dos nomes dos quatro sobrinhos – Alessandra, Jordânia, Fábio e Fabiano -, filhos dela, e de um endereço na cidade natal, Patrocínio do Muriaé (MG), que foi o caminho para que a equipe da SMAS encontrasse sua família, com a ajuda do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) local.
“Mandaram um e-mail para o CRAS de Patrocínio e a prima dos meus filhos recebeu e nos encaminhou. Não tínhamos contato com meu tio há uns 12 anos. Eu uma vez fui procurá-lo e disseram que ele vivia numa comunidade em Madureira, mas ficamos com medo. Depois disseram que estava num viaduto, mas não conseguimos achar. Chegaram a dizer que ele podia ter morrido, mas minha mãe nunca perdeu a esperança. Ela é apaixonada por esse irmão! Chorou ao saber que ele voltaria para casa”, conta a sobrinha Jordânia Aparecida Freitas Ladeira, filha de Maria Aparecida.
Hora do reencontro
Enquanto tentava encontrar a família, a equipe da SMAS ajudou Seu Manoel a emitir a segunda via da certidão de nascimento, numa unidade do Centro Pop (Cipop), para fazer novos documentos, além de fazer atendimento médico no Consultório na Rua, antes do abrigamento na Central de Recepção de Idosos. Na última sexta-feira, dia 27, chegou a tão esperada hora de se reencontrar com a família, que atualmente vive em Itaperuna, no Noroeste Fluminense.
Ansioso com a aproximação da hora da viagem, na plataforma de embarque da Rodoviária Novo Rio, Seu Manoel lembrava que há mais de 30 anos tinha saído de sua terra natal para vir morar no estado. E fez questão de mostrar quem eram os familiares das fotos enviadas pela sobrinha à SMAS.
“Minha mãe vai ficar com ele. Falei para ela fazer uma comidinha gostosa para a chegada dele e o quarto já está arrumadinho. Moramos perto e vamos cuidar muito bem dele. Agradeço muito o carinho e o trabalho de vocês da secretaria!”, disse Jordânia, que pensa em pedir a celebração de uma missa na cidade pelo retorno do tio.
FOTOGRAFIAS: Wanderson Cruz / SMAS / Divulgação